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Capítulo IV - Nas entranhas da mãe



***Indica-se ler início deste capítulo escutando a canção:


Como se estivesse sendo levado por ondas constantes de um mar mucoso, Otis não conseguia escapar do lugar onde estava. Mas a vontade de fugir daquele poço profundo de muco se dispersava quando uma imensa preguiça se apossava de seu corpo. Ele não entendia bem o que estava acontecendo, mas lembrava da última vez que viu o rosto de Maeve. Lá estava ele, feliz e entusiasmado em plena noite de Shibuya, quando uma criatura monstruosa o sugou para dentro de seu corpo. Era isso. Ele estava preso, mas um prazer culposo que o fazia querer continuar ali o impedia de fugir. Suas inseguranças sexuais de quando era um simples jovem vinham a sua mente, porém ao invés de assustá-lo, de alguma forma isso fazia ele querer entregar o seu corpo por completo a aquele ser monstruoso e nojento.


- Vocês não deviam ter brincado comigo, Otis. Agora não haverá mais volta seu miserável. - Alguém falava com ele, mas ele não tinha ideia de onde vinha - Agora me entregue todo o seu corpo, sua inseguranças, seus prazeres, seus fetiches.


Era aquele ser quem estava falando com ele. Mas era uma voz feminina e estranhamente conhecida.

- Quem é você? Por que está fazendo isso? Cadê a Maeve? - grita

- Você me conhece seu garoto malvado. Ou vai fingir que esqueceram de tudo o que fizeram comigo? - diz a criatura.


Aquela voz enrustida por uma maldade velada não era estranha. Aquele mesmo tom de ódio já foi ouvido por ele antes.


- Se quiser eu posso mostrar um pouco de mim para você, mas você terá que mostrar tudo que eu quiser. - diz a criatura, tentando seduzí-lo

- Como assim tudo? O que você realmente quer comigo?? Eu sinto que já ouvi sua voz, por favor fala pra mim quem é você, criatura maldita? QUEM É VOCÊE?? Eu não consigo me controlar, você está me deixando louco! - grita Otis, que se sacode tentando se libertar, mas quanto mais tenta sair, mais fica enfeitiçado e tomado por um tesão incontrolável

- Você não pode comigo, garoto! Nem ouse me desafiar! Graças à perversão que você provocou, eu não consegui cumprir minha missão no Colégio Moordale e fui amaldiçoada para todo o sempre! Os jovens daquele lugar estavam totalmente desvirtuados, com seus hormônios loucos, eu cheguei ali para trazer de volta a moral e os bons costumes, mas vocês me destruíram!! Vocês me destruíram, e agora eu vou destruir você, Otis Milburn!!

- Espera… - diz Otis, já sem fôlego, buscando respirar dentro daquela criatura gosmenta - você é...


Nas paredes pegajosas daquele monstro surge uma feição. Um rosto extremamente pálido com olhos claros e arregalados, além de lábios avantajados e ressecados. Era ela. A ex-diretora do colégio Moordale, Hope Haddon. Com um sorriso medonho, ela fala:


- Satisfeito? gosta do que vê? Me acha bonita?

- Me tire daqui, seu demônio! - exclama Otis, que se encontra em seu momento de maior insanidade - O que você é?

- Cala essa sua boca, seu garotinho nojentoooooo!


Ela se enfurece ao perceber que mostrou demais, e que Otis não demonstrou muito interesse em cooperar


- Já estou percebendo que você não quer colaborar comigo… então agora vou ter que castigar mais uma vez!


Hope, que agora se tornou uma maldição, expande o seu orifício e lança em Otis o poder da Castração Intermitente.


- Eu falei que não era pra você me desafiar! Agora você vai aprender!! - exclama Hope


Otis grita com uma dor absurdamente agonizante, que toma o seu corpo.


- Por que? Afinal de contas, por que você está fazendo isso Hope?- interroga Otis dominado pela aflição. - O que te transformou nisso?






Quatro anos atrás


***Indica-se ler as seguintes cenas escutando a canção:



Era o início de um novo semestre letivo, e Hope estava se dedicando ao máximo para reerguer o Colégio Moordale, de forma que a instituição pode-se voltar a ser respeitada pela mídia e pela população da cidade. Porém, por mais que tentasse, os alunos demonstravam extremo repúdio às novas regras implementadas pela diretora, o que a deixava furiosa. Além disso, Hope não vivencia um bom momento em sua vida pessoal, pois já fazia anos que a mesma tentava engravidar, contudo, os resultados nunca eram o que ela esperava. Brigas com seu marido também marcavam o seu dia a dia.

Desistir não era uma opção muito distante, mas ela se recompunha e tentava se equilibrar. Para isso ela precisava esvaziar a cabeça, então abria aplicativos de relacionamento e se envolvia com caras que a pudessem satisfazer. Enquanto analisava os rostos e corpos de vários homens, se deparou com uma homem estranhamente atraente, o qual possuía uma pele extremamente pálida, traços asiáticos e um sorriso, no mínimo, misterioso. Seu nome era Mahito. Hope estava sufocada pelas obrigações e queria dispersar e não pensa duas vezes ao marcar um encontro com Mahito.


Era tarde da noite quando eles se encontraram em um beco discreto e calmo da cidade. Mahito era calado, mas seu silêncio era ensurdecedor. Hope estava levemente assustada, mas ao mesmo tempo atraída por aquela figura misteriosa que carregava um leve sorriso maléfico em seu rosto, além de cicatrizes evidentes, como se sua face tivesse sido perfeitamente costurada. Por fim, eles entram no carro e lá, enquanto Mahito toca ferozmente no corpo de Hope, algo inesperado acontece.


- Eu sei muito bem o que você quer. O que você ambiciona ter! - diz Mahito, em um tom de voz baixo no ouvido de Hope - Você quer se tornar uma diretora consagrada por reerguer um Colégio cujo nome está na lama. Você quer ter uma criança nascida de suas entranhas. Você quer ser uma grande mãe e uma grande esposa, não é mesmo?


Mahito fala de uma maneira que deixa Hope assustada e com uma imensa vontade de chorar.


- Eu posso te dar isso e um pouco mais. Essas mãos fazem milagres. Basta você querer que lhe darei tudo o que você precisa.

- Eu não sei sobre o que você está falando - diz Hope, confusa e com lágrimas escorrendo pelo rosto - Vá embora agora!

- Não finja que você não sabe! Simplesmente assuma!!


Enquanto fala, Mahito abre a palma da sua mão direita. Nela uma estranha forma começa a se criar com a sua pele. Hope se assusta, mas com certeza não tinha ideia do que aconteceria. A coisa na mão de Mahito toma forma: um bebê surge em sua mão. A criança tinha traços que se assemelhavam a Mahito, uma feição bizarra e uma pele pálida.


- É isso o que você quer? Eu posso fazer isso sair de dentro de você. Eu posso fazer tudo o que eu quiser com essas minhas mãos.


Hope não sabe como reagir, porém um sorriso inevitável se abre em seu rosto. Por mais bizarro que tudo aquilo fosse, era exatamente o que ela queria. Ela estava cega por ter tudo o que ambicionava e Mahito era quem poderia lhe dar tudo o que precisava.


- Sim! Eu quero! É isso o que quero! Me dê, por favor, e eu farei tudo por você. Tudo o que você quiser, sr. Mahito - diz ela, como se tivesse uma vontade insaciável


Mahito cai em risadas, que chegam a ser psicóticas, deixando Hope assustada


  • Então fará tudo o que quero ? - pergunta para ela, que responde ligeiramente de forma positiva balançando a cabeça - Então agora você vai comer, literalmente, na palma da minha mão.


Hope via aquele ser como um Deus, porém mal sabia ela que ele era uma maldição. Uma maldição que surgiu do que havia de pior nas pessoas.


***

As coisas estavam indo bem para Hope. Ela estava conseguindo controlar a animosidade dos alunos, procurava se cuidar mais e raramente conversava com marido, pois agora ela tinha Mahito. Ela servia ele e ele lhe dava tudo. Ela não queria saber se aquilo era certo ou errado, apenas estava com uma imensa voracidade para ter tudo o que queria Porém, quando ela menos esperava, Mahito simplesmente sumiu. Ela não tinha ideia do que havia acontecido. Se ele viajou, morreu, ou se simplesmente havia perdido o interesse. E como em um efeito dominó, tudo desabou. Hope foi constrangida por todos os alunos de Moordale em um evento com a presença de todos os patrocinadores do Colégio, onde todos os alunos festejavam rebeldemente a “escola do sexo”. Foi humilhada, perdeu o seu emprego e, mais uma vez, os resultados de gravidez vieram negativos. “Acho que é agora o momento de desistir” pensou consigo mesma.


Dois anos depois


Depois de uma dolorosa separação e uma passagem por um quadro de depressão, Hope estava se reerguendo aos poucos. Buscava se concentrar em se tornar uma pessoa melhor. Percebeu que o que fez com os alunos foi incorreto e que suas atitudes do passado eram algo que não a representavam mais. Estava tudo indo bem, até que recebeu uma ligação desconhecida e inesperada. Quando atendeu o telefone, caiu pra trás. Era ele, Mahito, o “homem” que teve um caso no passado, o qual ela não sabia se tratar de uma maldição.


- Olá! Você se lembra de mim, querida? - pergunta ele, com seu típico tom maligno.


Ele a convida para encontrá-lo no Japão,na sua cidade natal, Tokyo.


Inicialmente, Hope hesita em ir, mas Mahito sabia como manipulá-la com sua voz e não demorou muito para que ela voltasse atrás e decidisse vê-lo. Entretanto, em Tokyo iria acontecer o pior momento de sua vida. Qualquer possibilidade de levar uma vida calma e feliz seria anulada. Ao chegar na grande capital, ela não perdeu tempo e foi se encontrar com Mahito no local em que eles combinaram o quanto antes. Ao chegar lá, se assustou em como era um ambiente quieto e misterioso. Diferente do resto da cidade, era um lugar escuro e quase deserto. Mahito a esperava com o seu sorriso macabro.


- Você continua com a mesma cara de depravação… nem hesitou ao vir até mim. - diz Mahito, chegando perto e tocando nos seus cabelos

- Eu fiz tudo que você queria, e você me abandonou! Eu me senti a pior das pessoas! - diz Hope, chorando e indignada

- Olha só, como você é tão inteligente… - diz ele, encostando sua boca no ouvido de Hope - Agora você já desvendou o que eu sou! Eu surgi justamente do que há de pior nas pessoas, dos sentimentos mais obscuros.

Algo lhe diz para fugir dali, mas já era tarde. Ela havia sido fisgada pela voz tentadora de Mahito, que a deixava vulnerável. Por mais que ele tivesse cometido erros, a imagem com a qual ela o via era a do herói que poderia oferecer tudo o que ela quisesse. Ainda que parecesse uma ilusão utópica, ela não queria voltar à amarga realidade. Ela queria aquele romance culposo. Mahito então a leva para dentro de um prédio, lá eles tiram suas roupas e não demora muito para que já estivessem juntos o bastante para formar um corpo só. E quando Hope está enlouquecidamente possuída por Mahito, ela sente sua mão próxima ao seu pescoço.

- Eu deleguei a você uma tarefa, a de impor regras em todos os alunos do Colégio Moordale até destruí-los completamente, e você me deu justamente o contrário: adolescentes gritando sexo em todos os lugares possíveis, se rebelando contra a abstinência, completamente imorais!! - diz Mahito em um tom mais do que assustador.

- Eu juro que eu tentei… eu fiz de tudo para reprimí-los!! Fiz mudanças drásticas, humilhei alguns deles até, mas de nada adiantou! - explica Hope, que tem sua face dominada pela apreensão.

- Você fraquejou, Hope… e eu não aceito ser traído! Por isso passei os dois últimos anos preparando a punição que você merece.

- Como assim, Mahito? Eu não mereço isso! - diz Hope, se afastando o mais rápido possível dele - Me explica por favor, o que você é? Por que queria tanto acabar com o sexo naqueles adolescentes?

- O sexo é vida. E o que eu quero é a morte! A morte de toda a humanidade! Quero todos os humanos destruídos! MORTEEE!!! - grita Mahito


Ao se dar conta que está completamente em perigo, Hope corre desesperada, tentando escapar. Mas Mahito tinha seus lacaios - almas humanas que foram transfiguradas - para segurarem Hope, e impede a fuga.


- Maldição acima de tudo! Eu acima de todos! EU SOU A MALDIÇÃO! - grita Mahito, lançando sobre Hope uma energia que vai deformando todo o seu corpo.


Seus braços somem e surgem tentáculos gigantescos. Seu corpo estrondosamente aumenta de tamanho, e seus membros se desfazem tomando a forma de uma estrutura semelhante a uma genitália feminina. Suas feições se desmontam, e sua figura fica cada vez mais tenebrosa e assustadora. Hope não era mais uma humana. Ela estava condenada para sempre ao se tornar uma criatura amaldiçoada, a PPKDuMal.


***


Hope abre os olhos levemente, mas confusa sobre o que estava acontecendo. Ela está morta? que lugar era aquele? Ela estava presa em um lugar que parecia ser um enorme estômago pegajoso e nojento. Confusa, ela não tem ideia do que fazer, mas então ouve um ruído... Não exatamente um ruído, mas um choro, um choro de bebê. É quando percebe que não está sozinha, pois ali, quase grudado ao chão, está o corpo de um recém-nascido. Se assusta, mas logo se aproxima para analisar o que estava a sua frente.

O bebê possuía uma face familiar, e era a face do monstro. Mahito. E esse foi o seu fim. Ela não estava morta. Sua alma foi transfigurada por Mahito, mas isso não impediu que a semente que ele semeou dentro dela não florescesse. Agora ela possuía uma maldição dentro de si, e se quisesse se manter viva teria que alimentá-la. Mesmo após tentar matá-la, Mahito deixou um fardo para sempre dentro do monstro em que ele a havia transformado..


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